domingo, maio 19, 2024
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Conquistas sustentáveis em Belo Horizonte: um panorama da capital dos mineiros no caminho da sustentabilidade

Por Isabella Gouveia

Belo Horizonte, a capital dos mineiros, traça caminhos em prol da sustentabilidade no município. Em 2021, por exemplo, com a nota de 60.1, em um ranking de 0 a 100, BH conquistou o 5º lugar entre municípios brasileiros com mais de um milhão de habitantes no último ranking relacionado ao cumprimento das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). 

Orla da Lagoa da Pampulha – Foto: Divulgação | Prefeitura de Belo Horizonte

Já em 2017, a capital ganhou o 1° lugar no ranking da Urban Systems, como cidade referência em sustentabilidade e meio ambiente. No ano seguinte, em 2018, BH foi escolhida, pelo quinto ano consecutivo, como a campeã do Desafio das Cidades pelo Planeta no Brasil, promovido pelo WWF Brasil e ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade (ICLEI), tendo sido considerada exemplo em políticas para um futuro de baixo carbono.

Com  2.315.560 habitantes, conforme dados do Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), diversas iniciativas públicas e privadas contribuem para o reconhecimento da cidade como sustentável. Atualmente, por exemplo, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte, 80.606 domicílios são contemplados com a coleta seletiva, realizada pela Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). Em 2019, dados da SLU apontaram que são coletadas 2.800 toneladas de resíduos por dia na capital mineira. 

Caminhão da coleta seletiva – Foto: Melissa Reis | Prefeitura de Belo Horizonte

As árvores desempenham um papel fundamental para a promoção da sustentabilidade, já que, dentre as suas várias funções, conservam a biodiversidade local e neutralizam a emissão dos Gases de Efeito Estufa (GEE). No ano passado, foram plantadas 15.577 novas árvores em BH, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, para o reflorestamento de áreas degradadas e recuperação de ecossistemas. Além disso, outras 25 mil mudas de árvores foram plantadas nos vários parques espalhados pela capital mineira. Ademais, existem, na capital, outras iniciativas sustentáveis em execução, como o Crédito Verde, a Lei das Carroças, o Plano Local de Ação Climática (PLAC), entre outras. 

Heróis da sustentabilidade: catadores de materiais recicláveis fazem parte da preservação ambiental

A administração pública municipal conta com o apoio da Associação dos Catadores de Papelão e Material Reaproveitável (Asmare), localizada na região central da capital e responsável pela coleta, triagem, passagem e comercialização de, em média, 503 toneladas de materiais reutilizáveis, das quais 44 são advindas da coleta mensal feita pela SLU.

Juvenal Antunes de Oliveira Neto, de 53 anos, catador da Asmare há 33 anos, coleta cerca de uma tonelada e meia de materiais recicláveis por semana e, anda, a pé, com o seu “carrinho” de coleta, 45 quilômetros por dia nas ruas da capital dos mineiros. “Eu saio de casa às 7h da manhã, venho para a Asmare, separo o meu material até às 17h. Depois, nós pegamos o carrinho e vamos para rua recolher o material. Nós chegamos na faixa de 21h e deixamos o carro aqui para o dia seguinte”, detalha.

O catador ainda explica que o material reciclado (papel, papelão, vidro, plástico, sucata, entre outros), é enviado para o Comércio de Resíduos Bandeirante (CRB), que compra o material dos catadores.

Juvenal Antunes de Oliveira Neto separando os materiais reutilizáveis – Foto: Isabella Gouveia | Panorama SG

Apesar de coletar um número expressivo de materiais reutilizáveis, Juvenal aponta que falta consciência na população.  “O nosso trabalho aqui é conhecido no mundo todo, só que a população de Minas Gerais e do Brasil, eu acho que não tem muito essa consciência de que, 90% do material que é reciclado e é jogado fora, não é colocado em um local separado para a gente. No meu ponto de vista, tem 45 anos que eu mexo com reciclagem, se eles colocassem a reciclagem no papel em um saco branco, ficaria fácil, porque nós conseguimos ver o que é reciclagem e o que é material orgânico que deve ser jogado fora. Se a população fizesse isso, ajudava muito”, pontua. 

Sede da Asmare na avenida do Contorno – Foto: Isabella Gouveia | Panorama SG

Além da Asmare, outras associações e cooperativas trabalham em conjunto com a prefeitura em prol do desenvolvimento sustentável da cidade quanto aos resíduos sólidos produzidos pela população. Dentre elas estão a Associação dos Recicladores de Belo Horizonte (Associrecicle), Cooperativa dos Trabalhadores com materiais Recicláveis da Pampulha Ltda (Coomarp), Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis da Região Oeste de BH (Coopemar), Cooperativa Solidária de Trabalhadores e Grupos Produtivos da Região Leste (Coopesol) e Cooperativa Solidária dos Recicladores e Grupos Produtivos do Barreiro e Região ( Coopersoli).

Hortas comunitárias: da recuperação ambiental à distribuição de alimentos

As Unidades Produtivas ou Hortas Comunitárias também são equipamentos que auxiliam na promoção da sustentabilidade em Belo Horizonte. Atualmente, a capital conta com 54 Hortas Comunitárias distribuídas pelas nove regionais, Venda Nova (4), Pampulha (2), Oeste (5), Norte (7), Noroeste (5), Nordeste (8), Leste (6), Centro-Sul (4) e Barreiro (13). 

Uma dessas unidades produtivas está localizada na rua Mar de Rosas, 279, no bairro Etelvina Carneiro, região Norte de BH. O local, criado em 2020, com uma área de três mil m² e apoiado por cerca de 15 famílias voluntárias que trabalham ativamente na Horta com as demandas cotidianas como plantio, manutenção, colheita, limpeza, entre outros.

Lindalva Aparecida dos Reis, de 59 anos, líder comunitária e presidente da Horta Comunitária Etelvina Carneiro, explica que o principal objetivo das Hortas é reutilizar áreas verdes dispostas na cidade. “O terreno antes era uma área verde utilizada para jogar entulho e bicho morto, além das pessoas que cortavam as árvores. Então, o projeto da Horta Comunitária, contribuiu com sustentabilidade e com a comunidade para mudar a realidade desse lugar.” 

O terreno em questão trata-se de uma área institucional deixada pela imobiliária responsável pela construção do bairro. A área total tem cerca de 33 mil m², onde três mil m² são utilizados pela Horta, segundo a líder comunitária.

Além do desenvolvimento sustentável gerado pelas Unidades Produtivas, os equipamentos também são responsáveis pela distribuição dos alimentos ali produzidos. De acordo com Etelvina Aparecida dos Reis, do total produzido pela Horta Comunitária Etelvina Carneiro, 60% dos alimentos produzidos como alface, couve, pepino, acerola, banana, abóbora, milho, entre outros, são distribuídos para a Prefeitura de Belo Horizonte, que encaminha para as escolas públicas, restaurantes populares e famílias em situação de vulnerabilidade social. Os outros 40% pertencem aos agricultores e são doados para a comunidade do entorno ou vendidos a baixo custo, para arcar com alguns gastos da Horta.

Família da presidente da Horta Orgânica Etelvina Carneiro – Foto: Isabella Gouveia | Panorama SG

O local, antes utilizado como um “bota-fora” irregular, hoje garante segurança alimentar para diversos belorizontinos e contribui com a consciência social da população do bairro acerca da preservação da natureza. Inclusive, o aparecimento de animais silvestres na Horta impressiona os moradores. “Aqui nós nunca tínhamos visto animais silvestres. Agora, vem umas galinhas diferentes, tucanos e micos que também se alimentam do que é produzido aqui”, explica a presidente.

A administração pública municipal trabalha em conjunto com as Hortas Comunitárias do município, a partir do financiamento de alguns insumos e apoio técnico especializado, principalmente. Além disso, o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) e a Articulação de Resíduos Orgânicos (ARO) também realizam doações de compostagem para a produção de matéria orgânica na Horta.

Sustentabilidade e futebol lado a lado são uma vitória para o meio ambiente

Dois dos principais palcos do futebol mineiro, o cinquentenário Estádio Mineirão, localizado na região da Pampulha e a Arena MRV, inaugurada neste ano, no bairro Califórnia, lado Oeste de BH, têm ações que buscam viabilizar a sustentabilidade na capital.

O Gigante da Pampulha conta com uma Usina Solar Fotovoltaica, em parceria com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), que tem capacidade de gerar 1800MWH/ano de energia. O consumo de energia da Arena do Galo, também em conjunto com a Cemig, é oriundo de fontes renováveis como a eólica e a solar.

O Mineirão e a Arena MRV possuem um sistema de captação da água da chuva, que é utilizada para os vasos sanitários, mictórios e irrigação dos gramados. Ambos estádios são parceiros da Asmare, que recolhe todos os resíduos reutilizáveis deixados por torcedores e demais frequentadores como garrafas pet, papel, sucatas, entre outros. 

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