O passado no presente: conheça o Museu da Moda de Belo Horizonte

O MUMO foi criado para reconhecer a moda como bem cultural e desmistificar a ideia de que museu é um espaço distante e elitizado

Thaís Batista

Uma construção neogótica que justifica ser, constantemente, confundida com uma igreja, o primeiro e único museu público dedicado exclusivamente à moda no Brasil, o Museu da Moda de Belo Horizonte (MUMO) é mineiro e fica localizado no coração de Belo Horizonte. Foi inaugurado em 2016 e recebe, em média, dois mil visitantes por mês, entre estudantes, turistas e profissionais da indústria fashion.

O imponente prédio no centro de BH conta com três andares e uma torre. Foi inaugurado em 1914 como Conselho Deliberativo de Belo Horizonte, desempenhando a função equivalente à de uma Câmara Municipal. Conhecido pelo nome de Castelinho da Bahia, foi projetado pelo arquiteto Francisco Isidro Monteiro, membro da Comissão Construtora da Nova Capital.

Antes do MUMO se instalar ali permanentemente, o edifício foi usado para várias funcionalidades: Museu de Mineralogia, Museu da Força Expedicionária Brasileira (FEB), abrigou aulas de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e até algumas sessões da Academia Mineira de Letras, além da primeira rádio de Belo Horizonte, a Rádio Mineira. Uma das funções iniciais da construção era abrigar a primeira Biblioteca Pública Municipal, que mantém até hoje.

Instalações do museu

Atualmente, no primeiro andar do museu, há duas salas de exposição, uma biblioteca com mais de quatro mil livros, com uma curadoria de moda, onde pode-se acessar e alugar as obras que podem ser devolvidas em qualquer biblioteca pública da cidade. No segundo andar há uma sala de exposição, um teatro de bolso com capacidade para 78 pessoas e uma varanda. No térreo há uma sala multimeios, usada principalmente para oficinas e reuniões, reserva técnica, sala da direção e sala do setor administrativo. 

No segundo andar, é possível encontrar o arquivo urbano do MUMO, que mostra o quanto a moda é influente na cultura, numa linha do tempo que vai de 1910 até os dias de hoje. As exposições do MUMO, em sua grande maioria, são de média e curta duração. Alceu Penna – Inventando a Moda do Brasil e Saberes de Costura: do molde à roupa são as exposições disponíveis no momento para visitação.

Importância de um museu público

Os museus têm um papel significativo na preservação da memória cultural de um povo. Entretanto, é preciso considerar que, aqui no Brasil, os museus ainda são espaços pouco visitados. Para 58% dos 600 brasileiros consultados pela pesquisa “Narrativas para o Futuro dos Museus” (Oi Futuro), os museus são espaços elitizados e pouco visitados. A educação cultural muitas vezes é associada a um certo nível de privilégio econômico. As desigualdades sociais significativas que marcam o Brasil resultam, entre outras, na ideia de que frequentar museus, apreciar arte e história, é uma atividade de pessoas mais instruídas e financeiramente estáveis.

O museólogo do MUMO, Victor Louvisi destaca que o museu se preocupa com a sociedade e em ser acessível. “Todos os nossos eventos são gratuitos e a entrada é franca. Por ser uma instituição pública, focamos sempre no cidadão e fazemos um esforço para acolher a todos sem discriminação. Dessa forma, o MUMO tem contribuído para desmistificar essa imagem que museu é um local elitista, pois há diversos eventos pautados na diversidade da sociedade e de forma gratuita. Todos aqui são bem-vindos. ”

Moda que conta história

O MUMO atualmente tem 5647 peças em seu acervo. São vestuários, acessórios de vestuário, fotografias, moldes, objetos tridimensionais, entre outros que remetem ao universo da moda. “Nosso recorte geográfico é Belo Horizonte e, no máximo, Minas Gerais”, acrescentou Victor. 

Quanto à importância do Museu da Moda na história e cultura de Belo Horizonte, Louvisi destacou que as peças do MUMO constituem parte de nossa memória como sociedade. “Isso nos remete a nossa identidade e ao que nós somos, o reconhecimento que fazemos parte da cidade e de uma comunidade. As peças também são importantes para pesquisas e produção de conhecimento. ” 

O museólogo também falou sobre os propósitos do MUMO. “Este é um dos principais objetivos do museu da moda, propiciar a preservação da memória e novos conhecimentos, por meio de oficinas, palestras, exposições e mostras de filmes. Além do seu trabalho com acervos museológicos, sua preservação, tratamento e comunicação. ”

A designer de moda, Mercedes Rodrigues, de 30 anos, que já visitou o museu algumas vezes, compartilhou sua percepção. “É muito legal a gente viver e reviver essa história de perto. A gente consegue olhar exatamente como essa peça foi feita naquela época, e que serve de inspiração até hoje. ”

Na sua última visita ao MUMO, a designer conferiu o projeto Alceu Penna Decodificado, que exibe as releituras de desenhos feitos pelos alunos do SENAI-Modatec/MG para a exposição no Minas Trend Verão 2019/2020 – edição Em Dias de Sol, idealizada por Ronaldo Fraga. “Ter um museu que tem tanta identidade, a gente consegue preservar nomes tão grandes e consegue, também, expor pessoas novas. Isso é muito legal”, disse Mercedes. 

Alceu Penna é figura emblemática do cenário brasileiro. Transitou pelas áreas do design gráfico, jornalismo, ilustração, figurino, estilismo, publicidade, cenografia e, entre outras atuações, pode ser considerado o precursor do jornalismo de moda no Brasil. Ficou famoso pela criação da seção As Garotas, publicada semanalmente na revista O Cruzeiro, entre 1938 e 1964, revolucionando a moda e o comportamento no país durante o período. A mostra ‘Alceu Penna – Inventando a Moda do Brasil’ também pode ser visitada virtualmente, basta acessar o site da Belotur: https://portalbelohorizonte.com.br/visitas-virtuais/exposicoes/museu-da-moda 

Uma moda para chamar de sua

Belo Horizonte se destaca como a principal vitrine da moda mineira, abrigando quase trinta mil negócios ligados à produção e vendas de artigos de moda, conforme dados da Câmara de Dirigentes Lojistas de BH (CDL BH). Em 2012, a cidade foi reconhecida, por meio de um decreto, como “Capital da Moda”. Posteriormente, em 2016, graças à iniciativa da Frente da Moda Mineira em colaboração com o governo municipal, a capital recebeu o selo “BH CAPITAL DA MODA”. O que resultou na realização de eventos significativos, como a Semana de Moda e o MOOD, Festival de Moda de Belo Horizonte, que ocorreram de forma consecutiva em 2018 e 2019. Essas iniciativas reforçaram a posição da cidade como um polo de destaque no cenário da moda, consolidando sua influência e relevância no setor.

Serviço:
Museu da Moda de Belo Horizonte
Rua da Bahia, 1.149 – Centro
Belo Horizonte – MG
(31)3277-9248 / 3277-4384
mumo.fmc@pbh.gov.br

Horário de funcionamento:
Terça a sexta-feira: das 9h às 21h
Sábados e domingos: das 10h às 14h