domingo, maio 19, 2024
Belo HorizonteTecnologia

Gigantes em nanotecnologia: Belo Horizonte está entre os principais centros de referência no Brasil

A capital mineira acumula pioneirismo e ineditismo na ciência ainda pouco conhecida pela população

Virgínia Muniz

Você provavelmente já ouviu falar sobre nanotecnologia. Alguma vantagem que ela proporciona, alguma notícia mencionando a ciência, mas como funciona esse mercado no Brasil e como a capital mineira se tornou referência na área?

Para começar, é importante saber qual é a definição de nanopartícula: é todo material que, quando está em escala nanométrica, apresenta propriedades diferenciadas do que quando está em escalas maiores. Como assim?

A escala nanométrica, de forma simples, equivale a um metro dividido por um bilhão. Ou seja, um nanômetro é um bilhão de vezes menor do que o metro. Materiais adquiridos nessa escala, como carbono, grafeno, metais, dentre outros, apresentam propriedades consideravelmente melhores do que materiais em escalas maiores.

Atualmente, no Brasil, já temos mais de 200 produtos registrados com componentes em escala nano de acordo com a plataforma StatNano, através do NPD, o Banco de Dados de Produtos Nanotecnológicos. 

Segundo a plataforma, são mais de 11 mil produtos que utilizam nanotecnologia no mundo e vão de cosméticos ao setor de energia renovável, sendo 200 apenas do Brasil. 

Inovação mineira que repaginou o mercado brasileiro

O Brasil já produz partículas em escala nano, um dos ofícios do Centro de Nanotecnologia e Grafeno da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o CTNano, referência no país para profissionais da área. Mas, para além da instituição, Belo Horizonte acumula uma lista de pioneirismos e ineditismos.

Apesar da produção nacional, a comercialização de nanopartículas sempre foi um processo burocrático, principalmente, por se tratar de um mercado novo: há poucos anos, não existia um serviço ou uma plataforma brasileira para comercializar esses materiais. Inovação idealizada e desenvolvida pela startup mineira, criada em Belo Horizonte: a Nanoview.

“No dia a dia da pesquisa, quando precisávamos de algum nanomaterial que não produzíamos, era necessário importar. Fazíamos isso porque não existia e-commerce brasileiro que vendia diretamente nanomateriais para o pesquisador. Então, nós pensamos: certamente tem mais pesquisadores nessa mesma situação. E se vendêssemos os nanomateriais que produzimos no CTNano? A gente queria facilitar ao máximo o processo de aquisição para os pesquisadores”, conta Raíssa Guerra, engenheira de produção e diretora-executiva da Nanoview.

A pioneira na criação do primeiro e-commerce brasileiro de produtos nanotecnológicos é uma spin-off do CTNano. Se ainda não é muito claro para você, o termo ‘spin-off’ representa uma criação derivada de algo. Ou seja, a Nanoview surgiu a partir dos desenvolvimentos tecnológicos do CTNano, mas com objetivos diferentes.

Segundo a engenheira de produção, Raíssa Guerra, em média, os nanomateriais demoravam cerca de três a quatro meses para chegar até o destino final no Brasil. Além das complicações de taxas de importação, já que não existiam formas de comprar diretamente aqui, em território nacional.

“Com isso, a gente criou o primeiro e-commerce brasileiro focado em nanomaterias. Percebemos que seria uma inovação na forma de aquisição destes materiais, por ser uma compra mais rápida. O pesquisador pode fazer tudo ele mesmo, através de uma interface como o site, que já dá acesso direto ao preço e a todas as informações técnicas e de segurança de cada material. Foi algo que a gente viu que facilitaria bastante o processo de compra”,

conta Raissa.

Tecnologia única no hemisfério sul: nanoscópio

Além do pioneirismo, o ineditismo é um dos motivos que colocam Belo Horizonte como foco de referência para a nanotecnologia.

Ainda no início do mês de novembro, o Brasil exportou para a Alemanha – considerada um centro de referência em instrumentação científica – o primeiro nanoscópio desenvolvido no hemisfério sul, mais uma tecnologia criada em Belo Horizonte.

Trata-se do nanoscópio Porto, desenvolvido pela mineira FabNS, startup sediada no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC) e formada por egressos da UFMG. Segundo o CTO da empresa, Cassiano Rabelo, “o equipamento conta com um diferencial único de qualidade em todo o mundo: uma nanoantena capaz de gerar resultados sem precedentes”.

Historicamente dependente de tecnologia estrangeira, o Brasil fez, pela primeira vez, o caminho inverso: exportar instrumento científico de ponta, de alto valor agregado, de espectroscopia óptica de campo próximo.

“Esses resultados podem auxiliar a desenvolver avanços disruptivos em nanotecnologia. A exportação dessa tecnologia rompe com o histórico de importações de alto valor de instrumentos científicos e o Brasil passa agora a exportar”,

resume o CCO da FabNS, Taiguara Tupinambás.

A exportação fecha um ciclo iniciado ainda em 2005, quando foram obtidos os primeiros resultados das pesquisas que dariam vida ao Porto, como foi batizado o nanoscópio desenvolvido pela FabNS.

A tecnologia é capaz de revelar imagens na escala de um nanômetro (medida um bilhão de vezes menor que o metro) e, com isso, propõe auxiliar os estudos de composições dos elementos como a do grafeno – material extremamente flexível e supercondutor -, utilizado em indústrias automobilísticas, produção de eletrônicos e até mesmo em processos de dessalinização da água.

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