domingo, maio 19, 2024
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Monumento da Pampulha segue quatro anos de portas fechadas e cuidadores procuram saídas

O Museu de Arte da Pampulha segue sem sua revitalização, mas procura maneiras de continuar incentivando a cultura na cidade

Renan Fonseca. 6ºp

A HISTÓRIA

O Museu de Arte Moderna da Pampulha (MAP), integrante do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, foi concebido pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer na década de 1940, inicialmente como um cassino aberto ao público em 1943. Contudo, com a proibição do jogo no Brasil em 1946, o prédio permaneceu fechado por cerca de uma década, sendo posteriormente adaptado para abrigar o museu, inaugurado em 1957. Essa transformação reflete a expansão urbana, populacional e cultural de Belo Horizonte na época.

Reconhecido por sua relevância para a identidade cultural do país, o MAP foi tombado nas esferas federal, estadual e municipal, respectivamente, pelo IPHAN em 1994, pelo IEPHA-MG em 1984 e pelo CDPCM/BH em 1994. Em 2016, o Conjunto Moderno da Pampulha, no qual o MAP está inserido, recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.

O objetivo do MAP sempre foi proporcionar ao público experiências reflexivas, simbólicas, afetivas e sensoriais no campo das Artes Visuais, através de suas ações museológicas e de seu acervo moderno e contemporâneo, em sintonia com sua arquitetura e paisagem. O museu abrigava aproximadamente 1.400 obras em reserva técnica, realizando exposições e diversas atividades artísticas, educativas e culturais, onde o foco era a produção de arte contemporânea. Além disso também possuí um Auditório, onde recebia pessoas para fins diversos

REVITALIZAÇÃO E DESAFIOS

Por problemas estruturais, em setembro de 2019, o MAP foi temporariamente fechado ao público, e desde então, o processo de revitalização encontra-se estagnado. Atualmente, a situação permanece inalterada, com um custo estimado de aproximadamente R$ 8 milhões para a conclusão do projeto.

Os desafios enfrentados envolvem não apenas a dimensão local, mas também o status de patrimônio de relevância global. Essa característica adiciona complexidade aos trâmites, tornando mais desafiadora a obtenção de consenso entre os órgãos responsáveis pela gestão do complexo arquitetônico.

A Arquiteta e Urbanista Luciana Rocha Féres é professora do curso de especialização em conservação e gestão do patrimônio cultual do IEC (Instituto de Educação Continuada), PUC Minas e presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC). Ela garante que apesar de trabalhoso, o processo será completo e vai corrigir problemas que se arrastam por décadas, porém ainda não há previsão sobre o início do trabalho.

“Atualmente, o projeto está em fase de aprovação, contando com a colaboração de um grupo formado pelos institutos Nacional (IPHAN) e Estadual do Patrimônio Histórico (IEPHA), além da nossa diretoria. Juntos, estão buscando soluções técnicas integradas para abordar as complexidades relacionadas à conservação do edifício. O Museu de Arte da Pampulha é uma verdadeira joia da arquitetura moderna mundial. A restauração deve ser realizada com padrões de excelência, buscando resolver todos os problemas técnicos inerentes a uma construção histórica” destaca Luciana.

Por outro lado, ela critica a falta de sinalização interpretativa no monumento e afirma: “Para que o conjunto seja apropriado, as pessoas precisam entender, conhecer e reconhecer as características que o fazem digno de valor universal excepcional.”

RECONHECIMENTO EM BELO HORIZONTE

Entrada do museu é cercada por fitas laranjas após fechamento, mas segue sendo cartão postal da cidade

Fechado há 4 anos, o Museu tem tido cada vez menos notoriedade no complexo da Pampulha e sem expectativa de volta, José Antônio Silveira, 43 anos é morador da região e teme que em pouco tempo possa cair no esquecimento:

“Eu, como sou da região, costumo passar perto todos os dias. Antigamente já frequentei, inclusive. É um pouco triste ver um local que agrega tanta cultura estar parado. Realmente passa a sensação de que abandonaram um dos principais museus que tínhamos, sensação de largado mesmo”

Silveira ainda afirma que para ele, o museu perdeu um pouco do seu significado e que algumas pessoas nem sabem do que se trata.

“Eu tenho a sensação de que é um local que fez parte só do passado. Já teve vezes de eu conversar com uma pessoa mais jovem e ela me dizer que nunca havia visitado e nem sabe o que é o museu. Não tenho muito otimismo quanto à restauração porque está parado tem muito tempo, mas espero que volte a ser o que era antes.”

NOVO MODELO DE FUNCIONAMENTO

Apesar das portas fechadas, o MAP segue fazendo algumas exposições. O projeto “ARTE BRASILEIRA: a coleção do MAP na Casa Fiat de Cultura” é uma parceria entre a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura e a Casa Fiat de Cultura.

A exposição de um acervo inédito foi inaugurada no dia 10 de outubro deste ano e conta com cerca de 200 obras, que atravessam a arte brasileira entre os séculos XX e XXI.

 Ao adentrar a exposição, o visitante se depara com registros do emblemático Conjunto Moderno da Pampulha, concebido sob influência do modernismo na arquitetura, inspirado por Le Corbusier. O projeto, que inclui o Museu de Arte da Pampulha (antigo Cassino), a Casa do Baile (atual Centro de Referência da Arquitetura, Urbanismo e Design de Belo Horizonte), o Santuário Arquidiocesano São Francisco de Assis da Pampulha (Igrejinha da Pampulha) e o Iate Tênis Clube (antigo Iate Golfe Clube), integra ângulos sinuosos de Niemeyer à rigidez da arquitetura europeia, resultando em uma harmoniosa fusão de arte, arquitetura e paisagismo datada do início dos anos 1940.

O núcleo da exposição oferece uma abordagem contemporânea ao Conjunto Moderno da Pampulha, reimaginando seus propósitos, conexões emocionais e relevância social, justificando seu status de Patrimônio Mundial, obtido em 2016 como uma paisagem cultural. Na exposição são destacadas as fotografias de Marcel Gautherot, que capturam a Pampulha desde seus estágios iniciais até exposições mais recentes, como a de Paulo Nazareth, proporcionando um olhar diversificado sobre o icônico local.

A exposição vai até 04 de fevereiro de 2024 e conta com a entrada gratuita durante todo o período.

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