domingo, maio 19, 2024
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Belo Horizonte: o crescente aumento da população em situação de rua na capital mineira

Nos últimos anos, Belo Horizonte testemunhou um alarmante aumento na população em situação de rua. De acordo com dados coletados pela Prefeitura de Belo Horizonte em, em outubro de 2022, entre 2014 e 2022, a quantidade de pessoas nas ruas disparou em 192%. Esta estatística expõe um cenário preocupante, revelando a realidade social da capital mineira.

A pesquisa revelou ainda que 84% das pessoas em situação de rua são homens, com uma média de idade de 42 anos, enquanto os 16% restantes são mulheres, com  média de 38 anos. Além disso, 82,6% dessa população é composta por pardos e pretos, apontando para a desigualdade racial como um dos fatores que mantém essa realidade.

Os principais motivos para essa condição são problemas familiares, desemprego e uso de álcool e drogas, como mostra a realidade de Wardem Hugo Pereira, de 38 anos, que mora nas ruas da capital mineira desde 2019, “Tô nessa vida desde 2019. Perdi o teto por não pagar o aluguel e aí a coisa complicou de vez. Crack entrou na parada também e ferrou, né?”. Wardem nasceu em Piracicaba no estado paulista, mas logo cedo foi para São Paulo capital com apenas 5 anos. Viveu em São Paulo ate 2011 quando perdeu o emprego e pelo alto custo de vida, teve que vir para Belo Horizonte onde morava a família de sua mulher, “A gente se mudou pra BH, ela trabalhava como diarista e eu num restaurante em Contagem. Só que isso não durou muito, fui demitido de novo em 2014. Minha mulher já tava cansada e em 2015, ela meteu o pé e foi pra casa dos pais. Arrumei uns bicos até 2018, mas depois disso, foi ladeira abaixo.”, concluiu.  Entretanto, viver nas ruas não é uma situação confortável e segundo o levantamento mais de 91% deles desejam sair das ruas.

 

Dentre eles, 27% acreditam que ser beneficiário de programas de transferência de renda poderia ser um caminho para sair das ruas, enquanto 17% enxergam na educação e formação profissional uma oportunidade de recomeço, o que mostra o desejo por mudanças e oportunidades que poderiam impactar positivamente suas vidas. Mas conseguir um emprego em situação de rua não é nada fácil. Além do preconceito com quem mora na rua,se vestir para agradar um contratante é um grande desafio, como afirma o entrevistado: “Já tentei sair dessa situação, mas é difícil. Arrumar um trampo, ainda mais com essa aparência, não dá não. E a grana que eu pego mal dá pra comer. Quando as pessoas descobrem que eu moro na rua, rola um preconceito, te olham torto, evitam, tratam mal”.

 

Outro aspecto revelado pelo estudo é a diversidade de origens da população em situação de rua de Belo Horizonte. Mais de 50% não nasceram na cidade, 34,5% eram do interior de Minas Gerais, 23,2% eram de outros estados e 8% eram de outros países.

Desafios e Perspectivas: Políticas Públicas e Necessidades Emergentes

Dados do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas sobre pessoas em situação de rua mostram um panorama alarmante em Belo Horizonte, para cada 100 mil habitantes da capital mineira, 340 moram na rua, a cidade se destaca em relação às demais capitais do Sudeste, como em São Paulo, que possui a média de 300 pessoas em sutiação de rua por 100 mil habitantes. Este número corresponde a cerca de 8,6 mil pessoas em situação de vulnerabilidade, numa população total de 2,5 milhões. 

 

Além disso, a grande maioria, 93%, vive em condições vulneráveis e de pobreza extrema, o que exige uma ação imediata por parte das autoridades para implementar políticas e estratégias abrangentes para apoiar estas pessoas marginalizadas. 

 

A situação dos abrigos para quem mora na rua em Belo Horizonte exige também uma resposta coletiva e um compromisso das autoridades e da sociedade em geral. Existem várias denúncias de descaso com a limpeza e com a organização dos locais, além de existirem queixas de tráfico de drogas dentro dos albergues da capital. 

Os desafios são grandes,  mas não impossíveis. investir em programas de transferência de renda, educação, formação profissional e cuidados de saúde são passos fundamentais para promover a solução para as pessoas em situaão de rua. No entanto, é importante que estas políticas sejam acompanhadas de medidas que abordem as raízes destes problemas, especialmente a desigualdade social e o acesso limitado às oportunidades de trabalho e estudo. 

 

As estatísticas e dados analisados expõem, não apenas a dimensão do problema, mas também a necessidade de um olhar mais humano e inclusivo sobre quem mora nas ruaa de Belo Horizonte, “Queria um trampo, um lugar pra ficar e tentar botar a vida nos eixos um pouco. Acho que seria importante ter mais oportunidades de emprego, tratamento pra quem tá nas drogas e menos violência, seria bom demais” afirmou Wardem. Diante disso, é imprescindível que sejam desenvolvidos e implementados programas que não apenas ofereçam assistência imediata, como abrigo e alimentação, mas que também trabalhem na reinserção social e econômica desses indivíduos.

 

Diante desse panorama, a complexidade do desafio exige a união de esforços e o comprometimento de todos os setores da sociedade. É tempo de agir de forma concreta e solidária, visando não somente a melhoria das condições de vida da população em situação de rua em Belo Horizonte, mas também a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva para todos.

 

A luta para transformar essa realidade deve ser contínua e pautada na empatia, no respeito e na efetivação dos direitos humanos. Somente assim, poderemos vislumbrar um futuro mais igualitário e digno para todos os cidadãos da nossa capital.

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