domingo, maio 19, 2024
Belo HorizonteTecnologia

Belo Horizonte é berço de automóveis camuflados em fase de desenvolvimento

Edson Junio Paiva

Cidade é uma das capitais de referência quando o assunto é teste de montadoras com seus produtos, mas a que isso se deve?

Não é difícil andar pelas principais avenidas da capital mineira e encontrar carros peculiares, e muitas vezes chamativos, cruzando por elas. Com estampagens diferentes que abusam das listras ou até mesmo envolvidos em grandes tapumes plásticos, os veículos em fase de testes são figuras comuns no trânsito belo-horizontino há alguns anos, e já deixou muita gente curiosa por aí.

Colocados à prova para que sua capacidade no intenso movimento urbano seja avaliada e quase sempre vistos em bando, os carros em teste utilizam-se de artifícios visuais para se disfarçar por onde passam. Para descaracterizar um modelo e não dar pistas de seu desenho definitivo antes do lançamento, as montadoras tentam esconder seu porte, suas curvas, faróis, lanternas e até mesmo portas e maçanetas. O resultado final, porém, raramente é algo que vai passar despercebido.

Ainda que a intenção seja desviar o foco das linhas finais de um produto, a atenção que esses protótipos atraem pode ser proveitosa para as fabricantes. Em alguns casos mundo afora e também nas ruas de Belo Horizonte, carros próximos ao seu lançamento são colocados nas ruas com inscrições na carroceria que estimulam os curiosos a descobrir qual modelo se trata, redirecionando via QR Code ou links para o site da marca. Uma bela estratégia de marketing, diga-se de passagem.

BH se tornando referência

A capital mineira começou a contar esses modelos em circulação após a chegada da multinacional Fiat no estado. Em 1976 a montadora de origem italiana instalou em Betim, cidade vizinha pertencente à Região Metropolitana de Belo Horizonte, sua primeira fábrica no Brasil. Com uma área total de 701.696 m² e produção estimada de 950 mil unidades por ano, o complexo industrial é considerado a maior fábrica da marca no planeta.

Com o passar dos anos, a aceitação no mercado e por muitas vezes a liderança nacional em vendas de automóveis, os investimentos locais da Fiat foram aumentando e a planta mineira da montadora foi se tornando não somente um polo produtivo, mas também uma referência para o desenvolvimento de novos produtos em escala global, para além da distribuição regional e entre países vizinhos.

Esses produtos, até os dias de hoje, circulam pelas rodovias e avenidas que ligam Betim a Belo Horizonte, adentrando pela capital e circulando por regiões específicas do centro da cidade. Encontrar essas unidades com visual secreto, além de gerar curiosidade, pode resultar em bons conteúdos para profissionais da mídia especializada. Marlos Ney Vidal atua há 20 anos como fotógrafo e jornalista  na área, procurando esses protótipos em testes e produzindo, através dos flagras, projeções fidedignas do que será lançado ao mercado.

“Registrei em outubro de 2003 minha primeira foto de segredo automotivo, revelando a nova cara do Fiat Palio 2004. Meses antes da foto ser feita eu rondava a fábrica da Fiat em Betim/MG para ver como as coisas funcionavam. Na época, não se tinha ideia de como ficariam as fotos, só se via como o trabalho tinha sido realizado quando retornava para a redação e revelavam os filmes.” destaca Marlos, que expandiu sua atuação para todo o mercado automotivo, ganhando notoriedade pela boa apuração e faro para novidades.

Na história mais recente, a montadora italiana com atuação em Minas fundiu suas atividades com outras marcas de alcance global para a criação do grupo automotivo Stellantis, atual quarto maior conglomerado do setor no mundo. A negociação trouxe vantagens para a atuação em solo nacional, já que a empresa passou a ter um total de três fábricas de automóveis no país.

O know-how faz a diferença para o desenvolvimento na região

Os anos de experiência dos profissionais da região metropolitana da capital, além dos bem sucedidos projetos tocados pelas equipes de design e engenharia da fábrica, são fatores determinantes para que cada vez mais veículos em fase de desenvolvimento sejam mandados para a cidade de Betim. E com a junção de montadoras distintas utilizando a mesma estrutura produtiva, se torna cada vez mais diversificado o leque de carros ainda não comercializados rodando pela capital e adjacências. 

Os mais recentes lançamentos das marcas Jeep, Ram, Peugeot e Citroën, todas pertencentes à Stellantis, tiveram parte do trabalho de design ou engenharia compartilhado com a equipe mineira, mesmo sendo fabricados em outras unidades produtivas. É o caso do recém apresentado Citroën C3 Aircross, que apesar de ser originário de Porto Real/RJ, passou pelas adequações de mecânica e motorização para o mercado sul-americano em Minas Gerais, consequentemente sendo visto diversas vezes pelas ruas belo-horizontinas.

A medida que os lançamentos se aproximam, ou dados oficiais de desenho e dimensões são divulgados pela equipe de comunicação das montadoras, os protótipos em testes vão diminuindo nos disfarces, por vezes concentrando as camadas de proteção nos logotipos e nomenclaturas. Basta um olhar atento, ou o entendimento de que aquele não é um carro disponível no mercado, para identificá-los.

Ainda que os olhares não sejam tão atentos às partes escondidas, uma outra maneira de identificar esses carros é pela cor da placa de identificação. Elas serão sempre verdes, para indicar ao sistema regulador de trânsito que aquele veículo que circula em via pública pertence a uma empresa montadora ou fabricante de automotores. Ao andar pelas ruas de Belo Horizonte, ou principalmente nos arredores do complexo industrial da Fiat na região, e encontrar um ou mais veículos em testes, temos o vislumbre da capacidade de nossas tecnologias locais.

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